sexta-feira, 28 de julho de 2017

SOBRE QUINTAIS



no quintal há abundâncias e abismos,
adjacências e sustos;
em meio a punhados de manjericão e cebolinha, em meio ao que desponta no caminho: bálsamo e perfume, arranhões e palavras:

 palavra empinada
palavra sem rosto
 palavra com dedo em riste;
palavra que flutua
numa tarde qualquer de verão; que faz alvoroço por dentro;

palavra que sobra depois de uma refeição;  palavra com perfume, palavra que abre um vazio;  palavra que faz poesia .

a menina corre para pegar e fugir das palavras que caem. 

sábado, 22 de julho de 2017

AH O AMOR, O TAL AMOR. É MINHA LEI, É MINHA QUESTÃO ;)

Fotografia: Anônimo
Como minha avó, eu poderia dizer que amor é quando, juntos, se come um saco de sal; ou quando de um limão, se faz uma limonada. (mas com ou sem açúcar? ); eu mesma poderia dizer que amor é quando se faz um poema. quando se faz uma canção... quando se canta uma canção, pode ser amor. 

Quintana diz: “O amor é quando a gente mora um no outro”. Danilo Caymmi pergunta “O que é o amor? Onde vai dar? Parece não ter fim. Uma canção cheia de mar que bateu forte em mim”. 

Há quem diga que amor é tirar da própria boca para alimentar alguém, fazer o bem sem olhar a quem. (mas o que é o bem, não é? sabe lá.) Amar é discórdia; e Lacan aponta: “Amor é dar o que não se tem a quem não é”. Acho lindo! (achar lindo acho que é amor).

 Eu amo.Tu amas. Nós amamos. Vós amais. Eles amam. Você ama. Amar é a força do verbo. Alguns dizem que amar é jamais ter que pedir perdão. Outros que amar é sofrer. É rir junto e então olhar dentro do olho do outro, e rir mais ainda. Amar é conviver. Morrer. Ceder. Calar. Passar a bola. Morrer de ciúme. Lavar uma pia cheia de louças. Cozinhar e fazer um cuz-cuz para alguém é amor. Tirar um cisco do rosto de alguém. Um cabelo teimoso que entra na frente do olho. Matar uma barata. Sair de cena. Entrar em cena. Abrir a janela e jogar as tranças depois de escutar "Eu te amo Rapunzel!"

Amar será tomar veneno como os meninos de Shakespeare? Louvar o que reflete no espelho? Amar a dor que se sente? o que faz falta? Lamber a própria ferida é amar. Amar é partir. É ficar. Amar é ficar anônimo. Esconder coisas para alguém achar. (como um anel de brilhantes no meio de uma trufa?, um bilhetinho embaixo da xícara de café?, como esconder a você mesmo atrás da cortina e perguntar para uma criança: cadê?, escrever uma declaração em um outdoor???).  será? amar é não colocar etiqueta. amar é arrancar a etiqueta.

Amar é divagar. É concentrar. É fazer revoar a passarada no meio do caminho. Apreciar o vôo de quem voa. Tremer enquanto o outro voa. Amar é ficar sem palavra na boca. É amar tanto que seca a boca. É andar num metropolitano. É dizer, sou sim soteropolitano! E tu? que me diz, Coriolano? Amar é fazer graça com as coisas. Até com ideia de amar. 

Amar é escrever "eu te amo" na areia da praia pra depois a água do mar lamber e ser testemunha. Amar é testemunhar. Ou não. É descomprometer o outro de ser a sua testemunha. É um grito, de repente, no meio da sala. É colocar as roupas todas na mala e dizer: Adeus. Dizer Ah! Deus! Como eu amo! Amo e vou embora ;) Amo porquê me amo. 

Amar é, diante do tanto que assombra, lembrar do andróide que salva seu caçador em Blade Runner ou cantar de peito aberto o que diz Maria Bethania: “Sonhar, mais um sonho impossível, lutar quando é fácil ceder.... amar é fazer guerras e guerras por um pouco de paz. é cantar com o Rappa: qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz?

Amar de todo jeito. Ideias de amor. Ideias de amar. E valem. Amar é não colocar preço. É colocar as cartas na mesa. Manter viva a vontade. Fazer escolhas. Entrar ou sair do barco. Mas lembrar que existem bóias ;) Dizer: Eu vou nadando, sambando, cantando. Vou com você. Apesar de você. Eu vou; e você? Vambora..... Vamoagora... Vem comigo agora, hoje, enquanto a gente se adora 🎵🎵🎵🎵

terça-feira, 18 de julho de 2017

EU SOU ENTRE e DEPOIS





Fotografia: Clô Zingali


pelas fendas, frestas e fissuras, pelos fragmentos de uma ideia; enigmas sobrepostos acendem. 
por isso, e talvez por outra razão qualquer (nem importa);
 sou melodia e desenho. vôo e ritmo.
sou qualquer coisa de verão. qualquer coisa de estação: um aroma bem aqui (sente). sou cor e luz que refrata, apesar das flores no chão;
 o nítido da luz quando espalha e se esparrama entre as coisas: nas ruas por onde passo e até por sobre as águas. por sobre a ondulação.
por isso, e talvez por outra razão qualquer (nem importa); 
refrato. mesmo com a luz assim, torta.
pelas fendas, frestas e fissuras; pelos fragmentos de uma ideia; enigmas sobrepostos acendem
eu sou o que reflete depois da luz. o meio do caminho entre o que se fala e o que se cala. sou o meio.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

PERSPECTIVA SUBLINGUAL



Fotografia: Assis de Mello

espio pelo canto do olho. espio e sibilo diante do espelho e da luz. sibilo debaixo das guelras. diante do reflexo. é anacrônico mais uma vez modelar o barro e o balanço. talvez um gesto anterior à febre. um rubro gesto de queimar. de atear fogo no abismo. só depois vem uma brisa que sopra as labaredas e me faz equivocada. baixinho conjugo verbos manuelinos, e num repente, tomo sem pestanejar, o trem noturno para Lisboa. nada mais de albergue espanhol ou balas de caramelo. o closet passou a língua nas coisas e esvaziou a gaveta debaixo da neblina. é então que aproveito a densidade e me embrenho: escavo, lapido e desvio do que faz medo. entremeios, atravesso e absorvo. pé e perfume no passo. um chão que não sai do lugar. um chão que me anda. me desanda e subtrai o ar, em metonímica  imprecisão.

sábado, 1 de julho de 2017

É JULHO



Resultado de imagem para julho












Os dias julham-se debaixo dos olhos de Isaura.Ela se serve do estio, das chuvas que silenciam por um período enquanto desfia um bordado. Isaura se serve do que não importa: o frio sem razão no interior do país, as perspectivas para o próximo ano ou mesmo a falta de perspectivas para amanhã. É julho; e talvez por ser o meio entre o que há e o que pode haver, o que de olhos arreganhados ela vê, é o tecido de sua pele, trama por trama. Ela desmancha ponto por ponto para restar nua entre o que foi e o que pode ser. Entre a solidez dos escombros. Sabe que a pele e o caminho estão repletos de bordados: desenhos no tecido para se desfiar. Sabe da vida costurada nas paralelas. Bordada em osso e carne. Em fibra e desejo. Dentro do buraco da agulha. Sabe de tudo isso recostada na poltrona de tecido amarelo. De lá gira o dial da vida enquanto aguarda o que quer se fazer morada. Olha pela janela esse pedaço de terra e água que é a soma de infinitas direções trazidas pelos ventos. Abrindo e fechando os olhos, sabe bem o que crepita. A brisa, ao seu tempo, mostra o que importa para Isaura. É talvez com esse impulso que deixa o amarelo da poltrona, vai até a penteadeira e roça de leve a cor do batom em seus lábios. Cantarola uma música qualquer enquanto desliza pelo chão da sala. É julho.

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SOBRE QUESTÕES RESPIRATÓRIAS E AMORES INVENTADOS

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