de frente para a tv deparo com um ornitorrinco. penso em mim como um mix genético. penso quedas de meteoros e em adaptação. uma vida semi-aquática e noturna. rios e cursos de água. penso em Iemanjá. salve, Rainha. o ornitorrinco é um mamífero espinhoso e ainda assim pões ovos. verte leite pelas glândulas que depois escorre para alimentar os filhotes. somos tão esquisitos eu e ele. bico grande e pés de pato. ele é um bicho um pouco obsoleto. um pouco esquisito. por cinco minutos, admoesto tudo que não seja o aqui onde me livro e me invalido de mim. imagem antiga. resto na preguiça da fratura. na lírica dos papéis espalhados no chão.
olhando para ele penso na vida como uma contradição complexa entre voar, rastejar e ser mamífero. como possibilidade de mergulho. posso restar submersa por cinco minutos. vida e música. tempo, ritmo e pausa. o ornitorrinco, a vida, o fim e o começo das coisas: arranjo e musica. penso uma moldura para a imagem que vejo: para ele. uma moldura que lhe irradie as vértebras expostas. que pressuponha um caminhar desajustado e biônico. que, bem no debaixo do bico, proponha talvez um desejo musical e atômico à espera de mudança. o ornitorrinco habita um campo harmônico e mais ao fundo gira a roda da vida. ele resta na preguiça da fratura. na lírica dos papéis espalhados no chão.
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