quarta-feira, 26 de outubro de 2016

DA CALMA E DO SILÊNCIO












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Conceição Evaristo, vencedora do Prêmio Jabuti do ano passado - categoria contos e crônicas, com o livro Olhos D’água, é uma das vozes mais fortes da literatura atual.



Da Calma e do Silêncio
 
                   
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.

Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.

Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na  aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.

In Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

OUTROS MUNDOS :)



poemas memo.  por Sergio Cohn

Há um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo à cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa por dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano, o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamente, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

ANARQUIPÉLAGO

ANARQUIPÉLAGO
Submersas e móveis
ilhas isoladas
sob um sol submarino
no solstício de dezembro.
Não há caravelas
nem argonautas,
apenas náufragos
em águas estrangeiras.
Loucas e líquidas latitudes,
mil mares inavegáveis.
Cinco ilhas livres:
entre elas, no fundo indizível,
vive,
no mar de fuligem, Le Bateau Ivre.
Guarda (contrabando na carga)
palavras como âncoras corroídas,
ossos e um mundo fora de prumo.
O velame de velcro avisa
a vagabundos visionários e intempestivos
que só se navega de verdade
verticalmente.
Ilhas em fuga
afundam a teoria dos conjuntos,
a falácia dos mapas,
o sentido da história,
os gozos memoráveis.
Tantos portos,
tantas palavras
e nenhum destino.
E se todo caminho for (clan)destino?
 JOSÉ ANTONIO CAVALCANTI

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