quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

TERRA NATAL



Pergunta-se o que é Terra Natal. Escuta dizerem
que tal qual o amor, é coisa única. Um só amor. Uma só terra natal. Mariana não pensa assim. Sente-se capaz de abrigar em si muito amor. Amor simultâneo por coisas, cidades e pessoas. Por isso ama Edgar e Rafael. O vestido com estampa de oncinha e os chinelos. Por isso navega nas ruas de tantas cidades e diz: eu nasci aqui. À muitos lugares ela sente pertencer. Lembra-se das aulas de matemática e dos símbolos de  pertence e não pertence... Fundamental é mesmo o amor. E isso não muda. Do que muda, ela escuta o que se avizinha e faz ninho no seu quintal. Ao cair da tarde, vislumbra possibilidades de recriar-se e sair da mesmice. Estamos todos destinados à mesmice! , diz apocalíptica. Dentre as mudanças, ela prefere aquelas que não tecem motivos para acontecer. Aquelas que se interpõem feito tiro – entre o disparo e o alvo. E simplesmente não tem para onde correr. Não há tempo, talvez, para temer. 
Mariana gosta de experimentar desassossegos, cheiros inusitados e rajadas de vento. Sabe que viver é como estar no sofá de uma sala de espera, somente no aguardo da sua vez de entrar. É dar ou receber o diagnóstico. Assinar ou não o contrato e assumir as prestações que nos farão refém ou algoz. Os papéis todos da gaveta espalhados em cima da mesa. Um foco de luz roendo um pedaço do seu chão. Viver é estar no conflito. 
Mariana sabe disso e ama cada estrondo. Cada parede que desmorona. Sabe que coragem não é ausência de medo – é o medo mais o desejo de fazer determinada coisa, de superar aquele medo. 
Deve ser por isso que toma o avião carregando apenas sua bolsa. Sabe que quando se tem muito a perder não há espaço para pensar. Esse é o caso e ela vai perder cada uma das suas coisas. E vai nascer num outro lugar repleto de coisas outras que vai amar e odiar. Uma outra terra natal.
Feliz 2016:)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

SINAL FECHADO




SINAL FECHADO

Dezembro, 24. Mais uma vez é natal. Repetição e possibilidade de enxergar diferente a mesma coisa, a mesma situação. Para talvez poder se surpreender. Pelas nossas atitudes ou pelas dos outros. Simples assim. Salve Lenine! Todos os dias tem isso. O natal é um data que traz isso; e junto, traz aquilo tudo que a gente empresta dos outros e também dos momentos, para agregar às nossas fantasias e dar sentido às nossas vidas. Se podemos emprestar a loucura, o corre-corre, os presentes, os panetones (e a vida que às vezes acaba em panetones caríssimos!), de outro lado podemos emprestar o desejo genuíno de olhar para o nosso desejo. O desejo de representar no mundo da fantasia o NOSSO desejo mais de dentro. Silenciar um pouco diante da correria para nos escutar e, quem sabe, escutar o outro. Tentar subtrair um pouco as armaduras tantas. Como na música “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola, que diz que no nosso corre-corre estamos “sempre a cem”. Se deixar surpreender com algo. Enfiar nossas mãos na terra e sentir. Eu convido você. Convide alguém. Surpreenda-se. Ao invés só do fluxo doido do consumo, da correria, das obrigações: estancar no vermelho. Deixar um pouco de seguir a tropa. Buscar um afortunado encontro com seu dentro. Aproximar-nos das pessoas com quem convivemos e que às vezes, pouco sabemos delas; e, de algum modo, nos deixar nortear pelo “sinal fechado” de Paulinho da Viola: 

“olá, como vai?

eu vou indo, e você, tudo bem?

tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro e você?

tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo, quem sabe?

quanto tempo

pois é, quanto tempo...


UMA BOA NOITE DE ENCONTRO PARA TODOS NÓS :)

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