segunda-feira, 29 de março de 2010

CENAS DE ADALGIZA

O olhar é algo que acontece no olho. Tudo que entra por ele quando olhamos para alguém. Mesmo quando olhamos no espelho. O olhar desperta coisas. Muda o olhar de quem olha e de quem é olhado. É como diz aquela música, leitor:

“- como é triste seu olhar.
- como assim? A tristeza de um olhar vem de outro olhar, vem de tanto olhar.
- como assim?
- pelo olhar pode haver um motim.
- Não entendi, mas senti que era o fim”.

O olhar também pode vir por detrás de óculos. Óculos trazem para perto o que está longe. Definem o que está embaçado. Também tem o olhar que vem por detrás dos óculos escuros. Óculos quando são escuros escondem os olhos de quem olha e despertam em que quem é olhado “um não saber como se é olhado”. Óculos escuros são cinematográficos e as pessoas quando usam ficam cinematográficas. Olham as outras pessoas de um lugar chamado palco – que é uma espécie de tablado mais alto onde uns ficam distintos dos outros – e as coisas são vistas dessa perspectiva. O palco também pode ser de vários tipos. Mas não importa. Quem está lá está em destaque. E olha desse lugar. E também tem o não-lugar. Que é o lugar onde não se está. Onde não se é. Adalgiza, que é tão adoravelmente feminina, pensa sobre meninos e meninas. Pensa na escrita das palavras vertida em atos, gestos e expressão de olhos. Através do azul por onde enxerga o mundo e as coisas, ela lê e interfere. Ela que às vezes repete o que lhe disse uma amiga entre risos:

“Pra quem poderia ter morrido aos dois anos, estar aqui faz uma grande diferença!” E solta seu texto nos ensaios de teatro duas vezes por semana:

“espero que você não se importe
que eu expresse em palavras
como a vida é maravilhosa
depois que você está no mundo;
embora nada poderá nos manter juntos
podemos roubar um tempo para ficar juntos”

E quando olha para o seu amor, pensa que olhar é propagar incêndios. E me conta que nem conhece a planta dos lugares por onde se embrenha, o local onde ficam os extintores. Pensa em portas corta-fogo. Pensa em roupas feitas desse material e óculos. Deveriam inventar óculos assim, ela diz. Pois se as janelas são os olhos da casa, os olhos são a janela da pessoa. Por onde você, fora do corpo, espreita o mundo dos outros e por onde eles olham o seu dentro. “Alguém já disse, Jim Morrison disse: “ver implica sempre uma violação da privacidade”. Os outros desvelando nosso dentro. Ele que falou sobre os olhos e ser olhado, sobre o toque e ser tocado, disse: “Que fazem os olhos durante o sono? Movem-se como espectadores de teatro. Os olhos são genitais da percepção e também instauram sua tirania. Usurpam a autoridade de outros sentidos”. Ela pergunta o que deve fazer diante disso. Desespera. Diz: “Eu? Pobre de mim! Por quanto tempo mais arrastarei as feridas narcísicas dos homens? Não sou o centro do universo, não sou divina e tão pouco dona de minha própria casa! E ainda tenho que aturar essa violação de privacidade? ”.

Adalgiza proclama palavras na sua vida-palco. Eu aplaudo. De pé.

quinta-feira, 25 de março de 2010

VOCÊ TEM SEDE DO QUÊ?

Neste mês de março que quase finda, comemorou-se o Dia Nacional da Poesia (14) e o dia Mundial da Água (22). Já foi, mas sempre é tempo para falar de coisas importantes para a nossa vida, certo? E eu, após a descoberta das datas, achei interessante misturar as duas. Misturar coisas às vezes é bom. “Banana com a comida. Geléia doce de pimenta na carne. Pizza de chocolate. Peixe ao molho de carambola. Estar de frente para o mar e morrer de sede”. Água é fonte da vida. Penso que com poesia é assim também. Aliás, poesia é até verbo. Pode e deve ser usada n
o imperativo: POEME-SE. Não importa quem somos, o que fazemos, onde vivemos. Da água certamente, dependemos. E poesia? Bem, a vida pode ficar melhor com poesia. No entanto, por maior que seja a importância da água, as pessoas continuam poluindo os rios e suas nascentes, esquecendo o quanto ela é essencial. E poesia? Bem, muita gente se esquece dela ou nem se lembra e acaba poluindo a vida de coisas que não fazem a alma delirar. A água é, provavelmente, o único recurso natural que tem a ver com aspectos diversos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valores culturais e religiosos arraigados na sociedade. É um recurso fundamental, seja como componente bioquímico de seres vivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais, como elemento representativo de valores sociais e culturais e até como fator de produção de vários bens de consumo. Os números são sempre alarmantes, mas sempre mais alarmante é a situação precaríssima que só aumenta e permanece sempre verdade. Alguns deles: mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à água potável, quase 3 milhões de pessoas no planeta não têm acesso a serviços de saneamento básico e cerca de 6 mil crianças morrem diariamente em função de doenças decorrentes de saneamento deficiente ou de sua completa falta. E de acordo com a ONU, até 2025, se os atuais padrões de consumo se mantiverem, duas em cada três pessoas no mundo vão sofrer escassez moderada ou grave de água. Isso sem contar a contaminação de rios com mercúrio, agrotóxicos e esgotos domésticos e industriais. Não tem poesia nenhuma nisso. Não há verbo que delire diante disso, senão o simples e significativo: PARE! Pare de usar sem pensar. Se a água existe desde que o mundo é mundo e durou até agora, definitivamente não é porque ela é infinita. Proclamada com o objetivo de atingir todos os indivíduos, todos os povos e todas as nações do planeta, a Declaração Universal dos Direitos da Água foi feita para que todos os homens, tendo-a sempre presente no espírito, se esforcem, através da educação e do ensino, para respeitar os direitos e obrigações anunciados. E assumam, com medidas progressivas de ordem nacional e internacional, seu reconhecimento e sua aplicação efetiva. Pra terminar de misturar, lembro a música de Tom Jobim, “Águas de março”: uma letra musical repleta de imagens. Que nem a poesia. Poesia cheia de brasilidade. Um fluxo onde os seres são como pau, pedra, caco de vidro, nó na madeira, peixe, fim do caminho e outros tantos numa metáfora especial da vida e de seu caminho rumo à morte (mas que pode renascer de maneiras tantas). Que nem a água. Das chuvas que iniciam e acabam. Ou das fontes. Que iniciam e acabam. Pra finalmente a imagem da "água" como "promessa de vida". Tem muitas outras relações para se estabelecer. De poesia, de morte e de vida. Parafraseando o que diz a ONU sobre a importância de se preservar a água, eu diria: A água é nossa seiva. Seiva da nossa vida. Até da poesia. Que corre lírica nas veias, afina o sangue e pulsa. E deve ser manipulada com cuidado. Que nem a palavra no poema. O equilíbrio depende de onde os ciclos começam, que é igual “aonde” o verbo pega delírio no poema. A água, como a palavra, não é somente uma herança dos que vieram antes, mas também um empréstimo para aqueles que virão. E não é doação a fundo perdido da natureza. É rara. Não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. Então, leitor, poeme-se nessa onda. Isso matará a sede do mundo.

domingo, 21 de março de 2010

4 MINICASOS FANTÁSTICOS

1. O chocolate está na minha boca. Doce. Você sorri enquanto me olha. Sabe do gosto e das propriedades. Eu engulo. Também a vontade de sorrir de volta. O chocolate, eu, você, tem uma química estranha. Então mesmo assim eu sorrio. Eu nem sei se é o gosto, a química ou seu sorriso. Por dentro eu queria voar no seu pescoço. Queria cantar bem baixinho no seu ouvido: “Você não me provoca nem quando me toca”. E você pega o chocolate, me oferece mais um pedaço e sorri com esse olhar que pensa que me seduz. Não seduz. É só o chocolate que se espalha na minha boca. O marrom que fica entre os dentes e na língua. E o gosto. No mais me sobra o frouxo do seu abraço em cada encontro. Tão frouxo.

2. A cereja que ele me dá está em mim, nos órgãos e glândulas. O olhar é injeção de glicose que sorvo e dissolvo na papila tingida de sabor. O líquido me percorre, depurando, fomentando outras reações, enquanto seu olho me olha. Tudo é vermelho. Enquanto isso ele enxerga a contradição que sou e fica me variando entre seus dedos. Ora um, ora dois, ora cinco. Como saquinhos de veludo ele me varia. Uma a uma as fichas vão me caindo no estômago. Uma a uma eu sinto a dor. Os sininhos balançam no teto e fazem um barulho incomum. É o chão que está ruindo. Tudo é erupção: prazer e medo, susto e alívio. Falta tão pouco para tudo ser um amontoado de imagens lá longe. Falta tão pouco. Ele ri e brinca com os saquinhos de veludo. Vou me prender nos sininhos para não morrer à toa. Ou vou pegar a corda e me jogar, chegar de olhos arregalados no Japão. Eu prefiro minha parte em dinheiro. Vou pegar o pouco que tenho e comprar tudo em cerejas. Quando ele estiver me variando entre os dedos, vou surpreendê-lo. Esparramar todas elas bem no meio da sala, da cozinha, onde for, e pisar devagarzinho em cada uma. Esmagar uma a uma sob meus pés. Então vou rir do espanto dele. Vou rir até ele dizer pra eu parar. Então vou perguntar: Que foi meu amor? Você queria as cerejas?

3. Pense. Naquela rua tinha um moço sentado na soleira de uma porta. Cotovelo sobre os joelhos, dizia para uma moça que sonho como aquele nunca tinha sonhado não. Que nunca, desde os tempos em que saiu de Caruaru, tinha sonhado mais. Antes sonhou sim, muitas vezes. Mas nunca um sonho como aquele. A moça espiava de soslaio. Mexia a cabeça e olhava para a soleira em que eu estava. Olhava bem dentro dos meus olhos. E o medo estampado do moço que falava escorria pela calçada, pelas pedras, e caminhava até o bueiro. E então não escorria para dentro. Ficava. Da minha soleira eu tudo espiava. De lá mesmo me assenhorei da situação e atirei a marreta. Bem no meio do medo. Não é que o danado riu de mim? Rodamoinhou em riso e frevo e então escorreu. Êita que acontece cada coisa!

4. Um tapete de concreto forrava a cidade. O céu de numerados cinzas cobria o oeste e prédios erguiam-se feito arbustos sobre o árido da terra. Espalhadas aqui e acolá, casas. Em nenhum canto cor. Em nenhum canto flor. À esquerda, no fio mais elaborado da sombra que atingia em diagonal o pequeno rosto, a menina partia formigas entre os dedos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

SOBRE RIOS, POESIA, AS CIDADES, OS HOMENS E OS PINGUINS

SOBRE RIOS, POESIA, AS CIDADES, OS HOMENS E OS PINGUINS


crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville.





Outro dia lia uma revista e vi uma citação: “Não resta dúvida de que o nosso conhecimento começa pela experiência”, de Emmanuel Kant. Comecei a pensar sobre experiências. A princípio, a experiência envolve uma complexidade de coisas, de possibilidades - mas penso: nossa experiência? Ou a experiência do outro, ou daquele grupo, ou da nossa espécie, ou de outra? Desse mundo e também de mundos distantes, hipotéticos, mitológicos? Do mundo animal? Poderia ser também. Aliás, experimentamos através dos animais muitas coisas: testamos medicamentos, reações, implantes... Penso no quanto necessitamos de cobaias. Não só nós. Li outro dia que já foi demonstrado em observações a pingüins-imperadores da Antártida, um comportamento tipificadamente egoísta. Querem lançar-se na água, mas ficam hesitantes com medo das focas... então existe um movimento para ver quem vai primeiro! Descartado o perigo, os outros mergulham. Mas fica claro que nenhum deles quer ser cobaia. Às vezes empurram uns aos outros! Caindo um e sesaindo ileso, então os outros saltam. Não é incrível? Quantos de nós vemos isso recorrentemente em nossos grupos? E observamos as coisas acontecerem, depois usamos a experiência alheia. Isso é de certo modo inteligente, certo? É egoísta também? Usar a experiência alheia para nos “verificar”. Isso pode ser de uma amplitude absurda. Com todas as coisas. Todas. Os rios que cortam as cidades, por exemplo. Também o ponto em que, tecnicamente, uma cidade com menos de 500 mil habitantes pode ainda ser controlada, modificada, revista e ampliada. Vemos tantas cidades e rios que passaram do ponto. Nesse aspecto se pode aprender com a experiência alheia e usá-la a nosso favor? Quando passo de carro pela Beira Rio (o Cachoeira agonizando) penso isso. Quando passo a pé, aí perco o controle, é a idéia disso que me pensa. Isso dá pano pra manga, leitor. Muitas mangas. Inclusive as que dão no pé. Como disse João Cabral de Neto sobre o Capibaribe lá em Recife:



“(...) E neste rio indigente,

sangue-lama que circula

entre cimento e esclerose

com sua marcha quase nula,

e na gente que se estagna

nas mucosas deste rio,

morrendo de apodrecer

vidas inteiras a fio,



podeis aprender que o homem

é sempre a melhor medida.

Mais: que a medida do homem

não é a morte mas a vida”.



Difícil não se embrenhar no contexto dos lugares onde vivemos, nascemos, e onde, afinal, estamos. Não viemos ao mundo a passeio. Viemos pra fazer diferença, acrescentar, subtrair, dividir. Multiplicar também. Viemos para possibilidades matemáticas. Para entrar nas equações e resolvê-las, subvertê-las. Sabe lá. Viemos para atuar. O universo das palavras em qualquer instância na poesia e na literatura possibilita significados e coerência ao mundo. Possibilita a experiência. E João Cabral arremata:



“... Pensei que seguindo o rio

eu jamais me perderia:

ele é o caminho mais certo,

de todos o melhor guia...”

quarta-feira, 17 de março de 2010

EU IA FALAR DE RAVIOLLI

Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville.

Eu realmente tinha planejado falar de raviolli, mas desde a publicação da crônica de Adália e Quasar venho recebendo mensagens que me fizeram mudar de idéia. Muito bacana saber das histórias envolvendo cheiros de várias ordens. De perfume, de comida, de lembranças, de fatos. Esse negócio de cheiro dá mesmo o que falar. E embora cheiro de raviolli seja muito bom e traga junto cheiro de amigos em torno da mesa, trabalhando juntos, preparando a massa e comendo, me pus a pensar em outros cheiros. Porque cheiro é um modo de a gente se “orientar”. Também pode ser um modo de a gente se perder. Mas se a gente pode se perder, também dá pra se achar. Como “cheiro da casa da gente”. É bom esse cheiro. Dá conforto. Dá aconchego. Cheiro de beijo na boca quando começa a pegar fogo. Cheiro de roupas limpas secando no varal (nem precisa usar amaciante pra cheirar gostoso). Cheiro da roupa de alguém com restinho de perfume. Cheiro de mar. Cheiro do crepúsculo no mar. Alguns cheiros me marcaram. Como o cheiro do pão de queijo que minha avó fazia e escondia num tacho de cobre no armário do quarto. Pode? Era uma diversão. A gente chegava e ia fuçando, comendo pelas bordas. Ela dava bronca quando via o tacho quase vazio mas no fundo devia adorar o fato de a gente “adorar” os pãezinhos que ela fazia pra gente. Tem cheiro inesquecível. Como o cheiro da Ilha de Páscoa. Aquele pedaço de terra no meio do Pacífico. Lembro de lá e já sinto um odor de terra virgem, de pura descoberta. E cheiro de café? De pão quentinho? Você coloca um pouco de manteiga e junto com o café fresquinho isso vira a porta do céu. Cheiro de “eu consegui! Eu consegui!”. E também cheiro de lugar errado. De hora errada. Isso sem contar o cheiro das situações que nos colocam em alerta: Cheiro de gás, de “acho melhor a gente se mandar”, “eles brigaram”, “que arapuca!”, “acho que isso pode nos prejudicar”, “aí tem armação”... E por aí vai. Ás vezes coisas que cheiram bem escondem ciladas. E tem cheiro que a gente sente que dá até náusea. Outros são apenas ruins, outros ainda, são tóxicos. Tem cheiro difícil de esquecer. Cheiro de gente dormindo na rua. Cheiro de gente cheirando crack. Cheiro de gente “se acabando” por dificuldades de todas as ordens. Cheiro de quando se passa em trechos de estrada que abrigam determinadas indústrias. Típico de fábrica de celulose. Cheiro de indústrias que jogam seus esgotos nos rios que temos, cheiro de residências que fazem o mesmo. Cheiro de falta de saneamento básico. De rio poluído. Cheiro de esgoto a céu aberto. Cheiro de descaso político. De falta de vontade política e falta de “panelaço” de uma sociedade civil não organizada. Esses cheiros a gente pode associar às coisas. Ou a gente deveria! Para o cheiro vir junto e ajudar a gente e todo mundo a não esquecer. Porque tem cheiro que definitivamente não é bom esquecer. É bom guardar na memória que chamam de não-declarativa ou de procedimentos. Aí na ocasião propícia, do voto, por exemplo, a gente lembra, associa e pode tentar uma opção que cheire diferente. Um cheiro que não cheire a pizza.

domingo, 14 de março de 2010

SOBRE ESPAÇOS, AUSÊNCIAS E COISAS PARA SE FAZER

Espaço. Um pedaço de margem branca depois que acaba o texto. Entre um texto e outro também pode ser. Espaço pode ser grande, mas é bom você delimitar. Espaço numa fita para gravar músicas. Como as cassetes de outro dia (porque o espaço entre hoje e o tempo das fitas cassete é muito pequeno). Agora é o espaço do CD, ou do pen-drive e outras tecnologias. É engraçado lembrar das fitas cassetes. O gravador fazendo aquele barulho para rebobinar. E quando a fita enroscava? Ah, era engraçado. Espaço é o que pode haver entre as pessoas quando elas estão com humor alterado. É o que você dá para as pessoas quando permite que entrem na sua vida. Espaço é onde os astronautas flutuam; os planetas todos orbitam no espaço. Espaço é um lugar que você precisa ocupar pra fazer algo melhor:
- me dá mais espaço, por favor. Espaço é o branco do papel, qualquer branco que se queira ou precise vencer. A tela do artista em branco é espaço. A casa inteira é espaço para a criança correr. Quarto é um espaço onde alguém pode morrer. Espaço é qualquer fresta por onde a luz entra no tubo de revelação e queima o filme fotográfico. Espaço é um lugar numa cama para uma pessoa. Mas pode caber mais de uma também. Espaço é algo para onde as coisas vão: pessoas também. - Foi pro espaço! No espaço as coisas desintegram. Espaços são outros endereços, novos endereços onde podemos morar. Espaço é um tempo que você arruma para alguém: - assim que possível. Espaço é um lugar onde você guarda idéias impossíveis. Um lugar onde moram nossas interpretações. É o que há ou não no freezer quando você quer colocar lá uma bandeja para fazer gelo, ou uma vasilha com feijão pra você comer daqui a 15 dias. É o que há de vazio no seu guarda-roupa quando você olha e diz: não tenho roupa para ir! Espaço é algo que se pode ocupar com letras. Espaço de alguém que você usa para escrever. Como esse. Um espaço onde cabem aproximadamente 3.500 caracteres, um título e uma ilustração. Cabe também a propaganda de ar condicionado logo abaixo. Espaços vendidos. Espaços comprados, cedidos, que podem ser tirados e oferecidos. Espaço é um lugar que a gente ocupa. Toda a gente. Os objetos também. Como os jornais, que ocupam um espaço sobre a mesa, um espaço na vida dos leitores de jornal; e as pessoas dizem que com tantas novas mídias o jornal nessa forma que conhecemos um dia vai acabar. Não acho. Espaço é um trecho que os corredores de fórmula I percorrem de 0 a 300 Km em menos de 10 segundos. É um lapso de tempo onde você olha para o seu parceiro enquanto trabalham cada um no seu computador e ele te olha com um sorriso maroto e você pergunta: - Que tá me olhando? Você ama nós dois trabalhando juntinhos ou quer um pedaço da minha pizza? É o tempo que ele leva pra dar a resposta que vem na forma de um sorriso. Espaço é o que se cria de bom quando alguém sorri. É tudo que cabe no reflexo dos olhos. É o tempo que alguém precisa pra ficar sozinho e também com outro alguém. É um tempo que se leva até que a gente possa estar com alguém que a gente muito quer. E é tudo que a gente faz enquanto isso não acontece. É também o que a gente não faz. O que a gente não faz ocupa um espaço muito grande, por isso temos a sensação de ser insuportável. O que a gente faz às vezes torna as coisas bem pequenininhas e então a gente quer fazer outras coisas para encher o espaço que ficou vazio. Espaço é um lugar que a gente enche de fumaça quando a gente fuma. O pulmão é um espaço que fica cheio de fumaça quando a gente fuma. E o pulmão ocupa um espaço grande dentro do corpo da gente. Quando se deixa de fumar se abre espaço para outras coisas e o pulmão tem mais oxigênio para respirar. Espaço é a prova de redação que alguém deixou em branco e lá no final escreveu: “o que o lápis escreveu, a borracha apagou”. E dez tirou. Espaço ocupado com 3.774 caracteres é o que tenho até agora. É melhor parar. Espaço é o tempo que tenho que dar antes de surtar. Até semana que vem, querido leitor.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O ESPORTE, UM MENINO, UM SONHO

O ESPORTE, UM MENINO, UM SONHO


Na tarde do último sábado o programa “caldeirão do Huck” mostrou um pouco da história e do sonho de um menino: surfar no Havaí ao lado de Kelly Slater. O menino Naamã, morador da favela do Morro do Cantagalo no Rio de Janeiro, segue em sua aventura até chegar ao Havaí; o contato com a beleza e o encontro com o astro mundial do surf. Ele se joga no abraço emocionado seguido de conversa e admiração e finalmente os dois no mar. Bonito de se ver. O garoto tem força na expressão, no gesto. Tem um imperativo dentro dele. De volta ao Brasil, Luciano o leva para um passeio de helicóptero pelo Rio. Ele tudo vê lá do alto: a baía da Guanabara, o Pão-de-Açúcar, o morro do Cantagalo onde ele mora, o Cristo. Eu pensava nele vendo sua própria vida de um outro plano. Sobrevoando a própria vida após uma experiência que transformou sua percepção. Seguiram depois para a casa do garoto. Os pais esperavam ansiosos entre paredes sem reboco e a falta de uma geladeira. A família não tinha geladeira. Não tinha sofá. Luciano sentou-se na cama ao lado de Naamã. Os pais, Sr. Estevão e Sra. Janete, sentaram-se também. A mulher desculpou-se pela ausência de móveis, pela pobreza. Sorriu um único dente num largo de se admirar. Luciano, ainda todo metido na emoção, pediu que o menino falasse um pouco da experiência para os pais. E ele falou que não iria mais faltar às aulas. Que iria estudar, aprender inglês, para voltar ao Havaí e conversar com Kelly. O pai espremia o rosto em lágrimas a cada palavra do menino. Repetia: que bom, meu filho! É bom poder ver que o mundo é grande, não é? Fico muito feliz, muito feliz. Atrás deles uma bolsinha preta de crochê com barrado cheio de flores coloridas enfeitava a parede; a camiseta vermelha que a mãe usava, igualmente tinha uma flor nela. Emocionei-me vendo aquilo tudo. Ah! É difícil não ser piegas numa hora como essa! Um germinar de oportunidades. Naamã realizou seu sonho e de quebra várias outras coisas aconteceram e acontecerão. No final da reportagem, os letreiros vão subindo sobre as imagens de Kelly e Naamã surfando juntos. Caetano vai cantando: “O Havaí, seja aqui, o que tu sonhares, todos os lugares”. E é isso Naamã. “Hot stuff”. Mas quero falar do que está por trás de tudo isso: o projeto Favela Surf Clube, que há 14 anos trabalha para que crianças dos morros cariocas possam escolher entre um fuzil AR-15 e uma prancha 6′5′. Além de aulas de surf, os 53 garotos que fazem parte da ONG ainda aprendem uma profissão e produzem pranchas de surf. Mais de 400 garotos já passaram pelo projeto que está aberto para meninos de qualquer morro que queiram surfar e não tenham condições financeiras. Foi daí que surgiu Naamã. Um representante desses mais de 400 garotos. Então eu pensei na nossa cidade, cheia de garotos cheios de sonhos. E pensei no esporte como catapulta para o desenvolvimento deles. Nos projetos sociais que envolvem o esporte e as dificuldades todas que permeiam esse dia a dia. Joinville fez 159 anos. Merece “parabéns” por muitas coisas. Inclusive por seus cidadãos. Sim, uma cidade é seus cidadãos. E aniversários trazem o sentimento de pensar a vida, o futuro. O maior presente que uma cidade pode dar a seus cidadãos é essa perspectiva de crescimento para suas crianças; investimento na educação e no esporte. O sonho de Naamã mora em muitas crianças e adolescentes daqui. Vamos ter olimpíadas no Brasil. Por que não aproveitar esse espírito olímpico, incentivar e dar condições às crianças e adolescentes? Joinville tem uma grande força econômica, desponta em algumas frentes do esporte e certamente há muitas pessoas que conhecem seu potencial e trabalham arduamente na construção de seus cidadãos. É um presente que a cidade não negue incentivos para esse caminho desenvolver-se. É um presente que nossas crianças possam atravessar as fronteiras de suas próprias dificuldades amparadas por projetos como o da Favela Surf Clube e que possam, a partir disso, sonhar suas próprias vidas de um jeito diferente. Olhar a vida de um outro plano e criar imperativos dentro deles. Como aconteceu com Naamã. Parabéns ao programa do Luciano Huck por trazer isso à baila. Parabéns para Joinville e para aqueles cidadãos que acreditam nessa possibilidade e trabalham para que ela vire realidade.

segunda-feira, 8 de março de 2010

MADALENA

MADALENA  :)                    Crônica publicada no Jornal A NOTÍCIA de Joinville.



Ela levanta todas as manhãs com os olhos rasos – prediz as circunstâncias do dia que se elabora (ainda é incerto se o sol brilhará pela manhã ou só despontará pelo meio da tarde) e põe os pés sobre o tapete. Sente as fibras do junco. Lembra da Bahia. Faz uma prece ao seu santo e ergue-se, bípede que é. Não suspeita das dificuldades de um parto por conta disso! Sermos bípedes e termos cabeça grande. Tudo bem. A seleção natural explica. Ela sabe apenas que pode caminhar sobre duas pernas – isso lhe basta. Lava o rosto e se demora no espelho. Alisa a pele com o creme. Isso a restitui do ontem, do silêncio que agora já não faz eco em seus ouvidos. Deixa escorregar o vestido sobre o corpo que desperta e veste a sandália. Miss, atravessa a sala em direção à cozinha. Para uma vez mais no espelho que há no meio do caminho. Confere. “Está tudo bem”. “Volto logo”. Prepara o café na cafeteira expressa – aguarda que comece a subir – o barulho, a fumaça, o cheiro que verte pelos azulejos e toma a sala (até o quarto vazio) e a casa vizinha com a janela aberta. Verte-o então na porcelana da xícara, sobre o açúcar e a expectativa. Sorve de gole em gole enquanto amealha suas coisas e põe na bolsa. Pega as chaves. “Logo estarei de volta”. Olha a sala mais uma vez, mais uma vez se olha no espelho. Sai e deixa a porta bater atrás de si. Tranca. Ela tranca a casa só. Sua casa. “Volto já”, ela pensa. Já na rua, enquanto caminha bípede, pensa: “Eu não me rastejo”. “Eu não ando sobre quatro patas”. Nem decifra que assim, talvez, as coisas ao menos parecessem mais fluidas. Até seu nascimento. (Viria pronta para tocar o chão, quadrúpede e com o crânio relativamente menor). Não se suspeita produto da evolução, de seleção natural. Dentro ou fora do pool genético para o melhor desenvolvimento das futuras gerações. Apenas caminha e expele dos pulmões o ar e respira um outro tanto dele. Apenas sente o peso da bolsa atravessada no tronco, (Uma espécie de abraço – alguém disse para ela) e diminui a distância entre ela e aonde vai. Entre o que vai fazer e ainda não fez. Mas deu quase todos os passos necessários até agora. Mais alguns e estará defronte ao momento. Para. “Não vou”. “Eu não vou”, repete para si. E não vai. Segue a suspeita. A intuição a guia de modo quase inquestionável. Algumas vezes duvida. Hoje não. Uma cadeia toda de moléculas acionando a resposta. Forças espessas impelindo o ato, acionando hormônios, acionando neurônios e sinapses. Gira nos calcanhares e retoma os passos (as setas dentro). Madalena é, absolutamente, fruto da evolução. Fruto do indizível que perpetua suas lógicas. Ao destrancar a porta, respira um pouco mais o café que ainda está lá, se olha de novo no espelho. “Pronto. estou aqui”. Atrás da cortina, e atrás das nuvens por trás das cortinas, o sol não brilha. “Talvez desponte no meio da tarde”. Pega o elástico sobre a mesa e prende os cabelos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

ESQUISITICES HUMANAS. publicado no jornal AN em 04 de março de 2010.

Humanos são seres esquisitamente maravilhosos, maravilhosamente esquisitos. Apaixonada que sou por essa espécie, me vejo por diversas vezes nesse enamoramento. Tudo chama minha atenção. Até as sandices. Os olhares que tudo olham. Examinam com avidez as tragédias. Vivenciam. Geram infortúnios, e igualmente, paciência, arroubos, doações. O olhar que observa a beleza e a fragilidade de seus iguais. Inveja e admira. Deseja o desejo. O próprio e também o dos outros. E nem sabe se, de fato, quer o que deseja. O olhar de um pescador para o mar. Dos surfistas examinando o movimento das ondas, dos ventos. Dos músicos quando cantam suas canções. E sentem. E se vivem outros. Vivem nas palavras. Nas cadências. Também nas pausas. O olhar do cirurgião para um órgão que pulsa em suas mãos. O olhar de uma mãe para o seu bebê. Do bebê para sua mãe. O olhar de um animal à espreita. Olhar de predador. E o olhar de uma presa. Olhar de medo. Olhar que faz outro olhar sorrir. Olhar que vira música. Amo ver o que determinadas pessoas conseguem captar e arrancar dos outros. Sorrisos. Crises de choro. Paixão desenfreada. Amor. Olhar de quem se veste em armaduras. Olhares de defesa. Posturas de defesa. O olhar que se enamora de outros olhares. Inclusive dos animais. Os olhares tantos de um cachorro para seu dono. Um cachorro no colo de seu dono. O olhar que espreita você fazer algo e sabe que está errado. Entende que você está errando, mas não interrompe seu momento. Porque não quer. Porque não sabe como interferir. Porque quer que você erre. Porque odeia você. Porque ama você. O olhar de pessoas que riem e se olham e então riem juntas. É o olhar sorrindo. Olhar que por vezes também chora. O vermelho do olhar. O triste que fica estampado. E as rugas. Os sulcos que cortam as faces como navalhas finas e afiadas, precisas. O olhar que acredita que depois da tempestade vem a bonança. A ingenuidade. A maldade. A vingança. O olhar que transparece não estar “nem aí” para o que você fala e nem percebe o contrário da postura instalado no olhar. Delatando. Olhar de quem não faz a menor ideia que os olhos denotam mensagens. Mensagens que podem reiterar ou invalidar aquilo tudo que sai pela boca e reverbera. O olhar que empurra o ar que chega até você. E então você respira. Quantas vezes vemos isso na fagulha do tempo que é a nossa vida. Fagulha é palavra-navalha que corta nosso rosto e nosso olhar. E não é incrível que seres humanos deixem tanta coisa escapar nesse tempo? É e não é. Porque a vida é rara e farta. E de fato, não dá para ter tudo, fazer tudo, querer tudo. Não dá para pegar duas estradas ao mesmo tempo, dá? É leitor, é como ouvi certa vez de alguém em Alagoas, quando paramos para pedir uma informação e o homem disse: “Você segue em frente e quando a estrada abrir, você deixa a direita e pega a esquerda”. É lindo isso. Entender essa pérola. Pra pegar um caminho, vem implícita a ideia de deixar outro. Se não a gente não chega onde pretende. Pode ser que algumas vezes duas saídas diferentes levem ao mesmo lugar por caminhos diferentes. Tem isso também. Mas é maravilhosamente humano estar na encruzilhada. Porque as escolhas que moram dentro das pessoas são aquelas que metem medo e obrigam a seguir a fala do homem alagoano. Deixar algo. E isso acontece o tempo todo nessa fagulha-vida. A gente pode fechar os olhos e dar os passos, tirar cara ou coroa ou usar qualquer outra metodologia. Mas as escolhas acontecem. Com ou sem nosso consentimento consciente. É daí, desse posicionamento nessa hora, que nascem as estátuas. É daí que os homens viram ou não, pedra. E então se podem ver outras coisas esquisitamente humanas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ARNICA - crônica publicada no caderno ANEXO do jornal A Notícia em 25 de fevereiro de 2010.

Em 12 de fevereiro de 2009, quando publiquei minha terceira crônica neste jornal, o leitor Jones Vieira Borges me escreveu um email pedindo que eu falasse sobre cachorros. Ele, que é um apaixonado pelo que chamou de “amigos de quatro patas”, me deu essa sugestão. Pouco mais de um ano, venho aqui para dizer: Chegou a minha cachorrinha, Jones! Da forma mais inusitada possível. Eu resistia à ideia de comprar um cachorro. Sei lá, mas o que há em mim pedia uma legítima guapeca – um termo lindo, que é o mesmo que vira-lata ou SRD, (sem raça definida) e que aprendi quando cheguei por aqui e tive meu primeiro cachorrinho em São Francisco do Sul. Chamei-o de Lupicínio, e o apelido era Lupi. Um guapeca lindo, marrom com olhos verdes. Foi para a casa de uma amiga em Guaramirim quando mudei pra Joinville. Na kit net que alugamos em Joinville não caberíamos nós três. Mas todas as vezes que vou pra Guará vou lá dar uma palavrinha com ele. E o bichinho me reconhece, senta e me dá a patinha igual a antigamente. Agora me acontece isso: no sábado de carnaval, voltando do baile, paramos para fazer um lanche na madrugada que escorria. Ela de cara se engraçou comigo. E eu com ela. Perguntamos ao dono da lanchonete se era dele. Disse que não, andava perdida por ali. Um amigo que estava com a gente perguntou se poderia levar. O homem disse: leva. Recostada na cadeira, a fantasia de “mexicano” do meu marido virou aconchego pra ela. Colocamos no carro e partimos. 5.50 da manhã do sábado. E desde então somos dela. Já conhece a casa da praia, fez a viagem São Chico-Joinville numa paciência sem igual debaixo de um calor perto do insuportável. Está em nosso apartamento e vai se acomodando aos poucos. Adora um carinho. A gente? A gente adora dar carinho pra ela. Uma vez por dia ela sai pra passear sua vida de cãzinha, como eu gosto de chamar. O nome dela é ARNICA. Uma homenagem às propriedades curativas da planta, ao poder curativo de um cachorrinho na vida de alguém e a uma amiga querida, que também batizou uma de suas lindinhas com esse nome. Hoje, depois de voltar do primeiro dia de aula na faculdade, ao abrir a porta, encontrei-a serelepe: abanando freneticamente o mormaço com seu rabo e fazendo gracejos. Até o ar que eu respiro ficou mais fresco com a alegria dela. E eu fiquei alegre, perdendo minutos nesse contato e me esquecendo do resto. ARNICA. Seus poderes são conhecidos desde a Idade Média - a Arnica montana é originária das regiões montanhosas do norte da Europa e desde tempos remotos é usada na cicatrização de ferimentos graças às suas propriedades regeneradoras de tecidos. Há controvérsias sobre origem do nome "Arnica", embora muitas referências indiquem que possa ser uma deformação da palavra grega 'ptarmica', que significa "que faz espirrar". Não é uma coincidência incrível? Arnica, a cachorrinha de que falo, espirra todos os dias! Já contamos isso ao médico veterinário e não há nada com ela. Acho mesmo que é graça do destino. Assim como a planta, que é um arbusto perene e que produz floradas abundantes de cor amarelo-ouro ou alaranjado. Que nem o sol. Ela, como ele, dá brilho para nossas vidas. Minha cachorrinha. Meu sol. A planta, por ser originária dos solos ácidos das montanhas européias, é de adaptação difícil no Brasil. Mas minha NICA segue se adaptando a nós e nós a ela. E vamos juntos florescendo.

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