sábado, 25 de julho de 2009

SOBRE ATITUDES E VARINHAS MÁGICAS


SOBRE ATITUDES E VARINHAS MÁGICAS



Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville em 23 de julho de 2009.


Acho que não me engano ao dizer que o leitor, assim como eu e todos os outros que por aí estão na vida, vez por outra esbarramos em coisas, pessoas, situações... Enfim, a gente às vezes dá de frente com barreiras, precipícios, maremotos, terremotos existenciais e pensa: como vou sair dessa? E assim pensamos no que é possível fazer. Em como podemos efetivamente, fazer o que nos cabe diante da dificuldade de agir, das barreiras sociais, políticas, de vida mesmo, onde damos de frente com a couraça do outro, das instituições, e até mesmo com a couraça invisível dos sentimentos que nos rodeiam. Como romper com isso? Como trabalhar com essas contingências e fazer fluir, seja lá o que for? Li algo que falava sobre isso, sobre esse “estar em contato” com o ser humano nessa condição ampliada, de arbitrariedades e barreiras. Sobre remover nossas couraças ideológicas para entrar em contato com nossa ancestralidade, com nosso prazer e com a capacidade que temos de modificar. Uma modificação que se faz de baixo para cima, de dentro para fora, através de um exercício de liberdade e cidadania, através de diálogo. Tentando sair um pouco do nosso discurso para interagir com outros discursos, mesmo que contrários, de forma harmônica. Pensar um pouco, que todos nós, com nossos saberes e fazeres podemos nos lançar no imediato dentro da experiência do tempo, nos transformando em sujeitos ativos e exercitando a possibilidade de ser atravessado por essa experiência. Nos tornar agentes. Nos produzir. E como a gente faz isso? Simples, leitor. Como diz o filósofo Luiz Fuganti, a gente precisa se colocar “em variação”, inventando e transmutando nossos próprios desejos e se colocando numa relação imediata com o movimento que nos atravessa, qualquer que seja. Segundo ele, só assim a gente pode se desalienar, produzir o novo. Só através do vivenciar efetivamente as “realidades” poderemos produzir afetos e mudanças reais. Inventando novos modos de perceber e de experimentar. E conclui dizendo que é somente através do “modo de viver” que passamos a ser senhores ou causas de nossos próprios destinos. Que só colocando nosso corpo e pensamento como laboratório, fazendo de nós mesmos laboratórios, poderemos produzir algo diferenciado, algo que seja antes de tudo, necessário a nós mesmos e que sendo atravessado pela vida, pensa e produz a vida com intensidade. E então se removem as couraças. E removendo-se as couraças, pronto, é um tirinho para realizar, para transcender. Produzindo novos “eus”, promovemos novos “nós”. Diga leitor, diga se não parece encantadora essa idéia, mesmo que também pareça ingênua e desatrelada do “vivenciar” que estamos habituados e por onde sempre nos enredamos em teias e barreiras de proporções tamanhas! Quando eu era menina sonhava ter uma varinha mágica pra modificar todas as misérias e problemas que eu conhecia... Elas, as misérias de todas as ordens, ultrapassaram em muito o meu entendimento daquela época, mas pessoas juntas e unidas no mesmo desejo ultrapassam em muito as possibilidades da varinha.... Vamos pensar?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O REI ROBERTO

Crônica publicada no Jornal a Notícia de Joinville em 16 de julho de 2009.

Eu nuca fui fã do Roberto Carlos. Mas lembro, eu devia ter por volta de 8 ou 9 anos, de alguns disquinhos dele lá em casa. Discos pequeninhos, maiores que um cd, mas de vinil. Eram os discos compactos. Se eu não me engano podiam ter duas músicas ou apenas uma. E meu pai tinha alguns dos grandes também. Mas lembro mesmo é de uma tia minha, que era...Como posso dizer? Era “apaixonada” por ele. Tia Irene. Ela colocava os discos e cantava junto. Ou cantava sem disco mesmo. Enquanto lavava louças, arrumava a casa. Puxa... Lembro bem de detalhes de algumas casas em que ela morou. E ela sempre cantarolava aquelas músicas. Mas cantava mesmo. Soltava a voz. Soltava a emoção. Depois passei muito tempo distante dos discos dele, da minha tia Irene também. “Saudades de você, tia”. Eu passei a gostar de outras músicas e fui criando meu repertório predileto e próprio. Fui me apropriando de novos sons, novas vozes. Bem normal. Mas Rei é Rei, não é? E se você esquece alguém trata de te lembrar. Com o passar dos anos, (muitos anos) quando alguém falava do Roberto eu dizia que gostava das antigas dele, da velha guarda. “Comigo aconteceu”, “Deixei meu cadilac”, “É proibido fumar”, “Quero que vá tudo pro inferno”. Discursos que a gente vai tendo e vai mudando no decorrer da vida (Ainda Bem, não é?). Mas sempre soube de cor as músicas que escutei naquela época. “Os botões da blusa que você usava...”. Essa eu canto de trás pra frente. Bobagem... Muitas das outras também! Eu nem sei o nome das músicas. Mas sei cantar. É só começar que a letra se desenrola todinha na minha cabeça. Esse show de 50 anos exibido pela Globo no último sábado me fez lembrar isso. Ele cantou quase todas as músicas que eu escutava naquela época, (“debaixo dos caracóis” ele não cantou...) e eu me emocionei tanto quanto lembro da minha tia emocionada cantando. Sobretudo da emoção dela. “Tantas emoções” como ele diz. E eu, olha só Tia Irene, cantei junto com o rei e fiz companhia à chuva que caía lá e cá. E chorei tantas lágrimas! Uma romântica típica, debulhada em lágrimas diante das palavras seculares de amor. Chorei tantas emoções! “Falando sério...”, “Amanhã de manhã...”, “Eu tenho tanto pra te falar...” Aquela dos botões da blusa, da capa pendurada (que loucura!) eu criança imaginava a cena da capa pendurada... achava aquilo tão cinematográfico, a capa pendurada lá mesmo no quintal da casa da minha mãe. Feito essas que o Maracanã inteiro usava. (Aliás, o “Maraca” estava mesmo maravilhoso!) Acho que era assim mesmo que minha imaginação pré-adolescente vivia e imaginava a emoção. Ou é minha emoção de agora que revive as cenas assim... sabe lá... Falando sério, como é bom você se entregar à coisas que não são do seu hábito e vivenciar esse “novo” sem preconceitos! É muito bom. Continuo não sendo uma fã do Roberto, mas, pensando bem, tudo que lembro suscita em mim “coisas boas”. Assisti o show “Elas cantam Roberto” e assim que sair o DVD gostaria muito de ter um. Lindas interpretações; e a parte final em que todas declaram-se, uma entrando na frente da outra - é muito boa - e assisti esse show dos 50 anos e provei “muitas boas emoções”. É leitor, “uma pedra no caminho, você pode retirar, uma flor que tem espinhos, você pode arrancar, pois se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”. Eu não sou fã do Roberto. Sou fã do amor. Mas sabe? “Como é grande, o meu amor, por você”

quinta-feira, 9 de julho de 2009

DEMOROU, VAI SER MELHOR.

crônica publicada no Jornal A notícia de Joinville em 9 de julho de 2009




Domingo. Quinze para as dez da noite. Acabo de voltar de São Francisco. Como sei que a semana seguirá impiedosa na sua batalha pra comer meu tempo – cá estou em frente ao computador. A crônica da semana. Vou tentar livrá-la do caos que se impõe neste final de semestre que não termina.
São Chico é oásis e eu ainda tenho energia da carga que peguei lá. Vou pegar essa onda. Ontem, fez um lindo sábado de sol. Minhas pernas caminharam pelas areias da Praia do Forte, chegaram até o riozinho quase lá no Capri. No caminho muitos pescadores com suas tarrafas, seus barquinhos e suas tainhas. Famílias inteiras ali partilhando aquilo. Inverno, sol, tainhas no mar e nas casas da gente... Mais na frente achamos uns amigos desfrutando do mesmo sol, do mesmo sábado, da mesma areia. Nos esquecemos um pouco por ali, deixando o calor entrar na gente. E lá foram as pernas caminhar de volta. Solzinho no outro lado do corpo, mais pescadores, tainhas, muitas gaivotas e nossas pegadas na areia: as que foram e essas outras que voltaram. Em meio à areia, a cadeira de “salva-vidas” (essa com função de observatório de tainhas) lindamente construída de troncos esbanja sua arquitetura. No alto, sob o guarda-sol, o pescador filma o mar com seus olhos. Nós sorvemos isso tudo.
De volta na Prainha. Uma caipirinha no “Amarelinho”, o bar do Adilson. Incomum a caipirinha dele. Incomum a simpatia e o clima bom do lugar. Uma olhadinha no jornal e já está de não se suportar o frio que vem chegando com a família inteira e muitas malas. No embalo pegamos as nossas. “Vambora já fazê uma fogueira”. E fomos. A alegria dos pescadores lá no mar e na mesa deles e a nossa na churrasqueira: tainha assada, tainha frita, salada de polvo e lula. Os amigos em volta do fogo. O fogo esquentado a gente e a lua enorme iluminando e enxergando tudo.
O domingo amanheceu sem sol. Os restos de ontem espalhados pelo quintal e nas pedras fora de lugar. Mas qual é o lugar das pedras? No meio do caminho, certamente. O fogo ontem hoje cinzas pedindo calor. “Vambora acendê essa fogueira”. Aí alguém fala ao telefone. Parece que tem uma baleia na Praia Grande. E lá saímos nós em caravana. Na Petiscaria Rosemeire nos dizem. “Ela passou por aqui, tomou uma cerveja, mas já se foi. Sorrimos e continuamos a empreitada. Não deve estar longe. No caminho, o carcará pousado numa cerca nos olha. Ele nada sabe da baleia. Observa atento as dunas e o que pode haver pra ele. “...Carcará não vai morrer de fome, carcará pega, mata e come...”. E eis que a vemos. Majestosa. Singrando o mar para o sul. Nobre, vasta nos seus 12 metros? Desliza. Nos deixa ficar ali a namorá-la. Nem sabe de nós. Mas nos dá de presente, sabe lá com quantos litros de ar que há no seu pulmão, dois jatos d’água. Ela sabe do nosso desejo. Sabe sim. E se vai. Damos adeus à bela criatura e voltamos pro nosso fogo. Pra nossa vidinha aqui na terra que agora tem essa história nela pra se juntar com as outras. O fogo vai queimando o domingo que afinal deve terminar. Os meninos lá dentro estão preparando um spaguetti. A gente lá fora tá tentando se esquentar. Final de semana que vem a gente inventa mais. Com tanta correria a semana vôa. Mas também pode demorar. Mas “Seu Jorge” tá rodando lá no CD: “... o clima é de partida, vou dar sequência na vida, de bobeira é que não estou e você sabe como é que é... demorou vai ser melhor”.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ADÁLIA E QUASAR

ADÁLIA E QUASAR

Crônica Publicada no caderno ANEXO do Jornal A Notícia em 02 de julho de 2009.


“Posso cheirar você?” Foi exatamente essa a pergunta que ela fez ao homem que amava. Aquela pergunta, ao se esbarrarem por acaso no meio da rua o deixou qualquer coisa entre estupefato e vibrante (ele desejava imensamente a mulher), e surpreendeu-se. Sem que ele respondesse ela se aproximou, tocou uma das mãos dele com a sua, se apoiou e cheirou. Cheirou profundamente. Atrás da orelha, o pescoço e o rosto. Respirou o cheiro. O agridoce. Eles não se comunicavam mesmo. Não sabiam usar a linguagem verbal quando se encontravam e então silenciavam. “falar o que?” Não havia nada para ser falado. O “posso cheirar você” dava conta do que havia para ser entendido. Embevecida diante do cheiro que sentiu ela buscou seus arquivos. “Parece que há uma espécie de teto no alto na cavidade nasal que responde por essa questão do “cheiro” humano. Os resultados ainda são conflitantes... mas... de todo modo, seus genes disseram sim ao conteúdo do cheiro. Os sinais olfatórios e as respostas desencadeadas por eles eram as pistas mais evidentes de que ela estava no caminho. De que aquele era o único caminho. Se olharam demoradamente quando ele a afastou (uma vida toda dentro). Estavam no meio da calçada, do dióxido de carbono e da falta de oxigênio. Ela quis mais uma vez se amalgamar ao cheiro, mas ele segurou seu braço, segurou seus olhos bem dentro dos dele. Ali refletida ela devolveu o olhar, soltou-se do braço sem despregar os olhos dos dele, virou-se e começou a caminhar, sem sequer olhar para trás. Ele, dentro do seu próprio cheiro e do que dela havia se misturado, ficou ali preso no momento. Cheirou profundamente o “em volta”. No rastro, nada nem nenhum caminho que ele pudesse seguir. E dentro do cheiro e da ausência ali permaneceu de modo irremediável. Ainda hoje, ao passar naquela rua se pode ver o homem ali. Estátua de pedra e cheiro. Dizem que a mulher mora ali mesmo por perto, mas não deseja ser reconhecida. Durante a noite, enquanto muitos ainda dormem, ela aparece para cheirá-lo. Chega perto, ronda a figura de pedra e delonga-se. Então toca uma de suas mãos, se apóia e o cheira profundamente como daquela vez. Faz isso tão profundamente que os contornos dele começam a se definir, e os batimentos cardíacos lentamente a voltar. Então eles se olham e se entregam ao momento. Um mora dentro do outro. Ela se vê refletida em seu olhar e de novo tenta conter o desejo de cheirá-lo, de entranhar-se à ele. Mas não é possível: mais uma vez ele segura seu braço e seus olhos bem dentro dos olhos dele. Uma firmeza que ela não sabe de onde vem. Então mais uma vez ela se solta do braço que a prende e vai embora (uma vida toda dentro). E ele torna pedra uma vez mais. É assim todas as noites. Dizem. O povo diz muita coisa. Mas ao passar por ali (sim leitor, eu fui conferir!) senti eu mesma um perfume no ar. Um odor de vida e morte. Um odor misturado. É o que posso dizer. Um cheiro de vidas amalgamadas.

Postagem em destaque

SOBRE QUESTÕES RESPIRATÓRIAS E AMORES INVENTADOS

http://metropolitanafm.uol.com.br/novidades/entretenimento/imagens-incriveis-mostram-a-realidade-das-bailarinas-que-voce-nunca-viu...